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terça-feira, 2 de abril de 2024

O ditador e a ditadura, admirados pela extrema direita bolsonarista

O Fantástico do último domingo (31) destacou a trajetória do presidente húngaro que corroeu a democracia e se tornou inspiração para a família Bolsonaro. Para entender como o país se tornou porto seguro para alguém como Jair Bolsonaro, é preciso voltar 35 anos no tempo.

Exemplo para a extrema-direita: o que explica proximidade de Bolsonaro com a Hungria?

Em 12 de fevereiro, durante a segunda-feira de carnaval, registros de câmeras de segurança mostraram o ex-presidente Jair Bolsonaro chegando à embaixada da Hungria, em Brasília. As imagens foram reveladas na última semana pelo jornal "The New York Times" e indicam que Bolsonaro passou 43 horas por ali.

O episódio originou uma investigação da Polícia Federal sobre os motivos da visita. Segundo os advogados de Bolsonaro, a hospedagem, que incluiu dois pernoites, serviu para "manter contatos com autoridades do país amigo".

Na última quarta-feira, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, pediu parecer da Procuradoria Geral da República sobre as explicações dadas pela defesa do ex-presidente.

O coordenador do Observatório da Extrema Direita, Guilherme Casarões, destaca o motivo da amizade entre Bolsonaro e o governo húngaro. O país tem um regime autoritário e ultraconservador no poder.

"De todos os países do mundo, a Hungria certamente é aquele que mais se alinha com a ideologia do Bolsonaro, com a percepção do Bolsonaro sobre a política", ressalta o Casarões.

Quatro dias antes de aparecer na embaixada húngara, Bolsonaro teve o seu passaporte apreendido e viu diversos aliados e ex-assessores sendo investigados por causa dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.

No dia da apreensão do passaporte, o primeiro-ministro da Hungria manifestou apoio a Bolsonaro. Segundo Casarões, a Hungria está propensa a acolher o discurso de perseguição política promovido por Bolsonaro no Brasil como uma estratégia para desviar a atenção da Justiça.

"A Hungria certamente compraria ou está muito propensa a comprar o discurso de perseguição política que o Bolsonaro tem tentado vender no Brasil de que ele está sendo perseguido pelas autoridades do judiciário", destaca Guilherme Casarões.

Para entender como a Hungria se transformou em porto seguro para alguém como Jair Bolsonaro, é preciso voltar 35 anos no tempo, ao dia 16 de junho de 1989, quando a poderosa União Soviética entrou em colapso.

O Muro de Berlim estava prestes a cair e os países do Leste da Europa, que viviam sob controle comunista desde o fim da Segunda Guerra Mundial, buscavam se reinventar para um mundo novo. Uma dessas nações era a pequena Hungria.

Agora, 35 anos depois, o país é dominado pela extrema-direita. Foi em 1998 que o estudante sonhador Viktor se transformou no político todo-poderoso Orbán, após o partido dele, FIDESZ ganhar a eleição.

"Eles chegam já com algumas críticas a essa democracia liberal, mas ainda muito comprometidos, por exemplo, com os processos que levariam à entrada da Hungria na OTAN e mais tarde à entrada da Hungria na União Europeia", explica a professora de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF), Janaína Cordeiro.

Mas, em 2002, depois de quatro anos no governo, o partido de Orbán perdeu nas urnas para os socialistas e só conseguiu voltar ao poder em 2010. Janaina destaca a transformação de Orbán e seu grupo durante esse período.

"Eu acho que o Órban foi mudando, eu acho que o Fidesz foi mudando, eu acho que a Hungria foi mudando e acho que a Europa foi mudando", afirmou a professora.

Essas mudanças todas levaram o partido de Orbán, e ele próprio, para direita. Hoje, extremistas do mundo todo veem a Hungria como um exemplo a ser seguido.

Ultraconservadorismo
A Hungria atual, elogiada pelo deputado Eduardo Bolsonaro, rejeita a influência do Ocidente, rejeita os imigrantes, principalmente os do Oriente Médio, assim com o povo roma, antes chamados de ciganos.

Além disso, eles não apoiam a autonomia das universidades, juízes independentes, imprensa livre e minorias sexuais.

"O nacionalismo atrelado à dimensão religiosa majoritária é talvez a característica mais importante para a gente entender o apelo que a extrema-direita contemporânea tem, inclusive nas ruas", afirma Guilherme Casarões.

Denúncia de corrupção
Nesta semana, milhares de pessoas protestaram em Budapeste, lideradas por um ex-apoiador de Viktor Orbán que agora denuncia a corrupção nos escalões mais altos de poder.

"Essa última eleição de 2022 foi a primeira vez que se constituiu uma grande frente unificada contra o Fidesz. Mas essa grande frente, ela tem muito apelo, tem maior apelo, na capital e nas cidades grandes e médias. No interior do país, o discurso do FIDESZ e do Orbán ainda tem muito apelo", pontua Janaína.


G1

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