ARAIOSES/MA – A recente inauguração do trecho final de 16 km da MA 312, que integra plenamente os municípios de Água Doce e Araioses, foi recebida com entusiasmo. A obra encurta significativamente a distância na chamada "Rota das Emoções", um corredor turístico de beleza ímpar que conecta os Lençóis Maranhenses e o Delta das Américas, no Maranhão, a Jericoacoara, no Ceará. No entanto, o que deveria ser um caminho livre para o desenvolvimento e o turismo pode se tornar um trajeto lento e desgastante, graças a proliferação desmedida de quebra-molas.
A nova rota, que tem 75 km entre Araioses e Tutóia (passando por Água Doce), é, em tese, muito mais vantajosa que a antiga, que obrigava os motoristas a dar uma volta de 135 km, passando por Cana Brava. Na prática, porém, muitos condutores preferem a rota antiga, mais longa, para evitar o martírio de tantas lombadas.
O trecho de aproximadamente 25 km entre Barro Duro, em Tutóia, e Água Doce, já é marcado pela presença de cerca de 50 redutores de velocidade. Com a inauguração do novo trecho, empresários e lideranças locais temem que o número total de quebra-molas ao longo de toda a MA 312 chegue à marca de cem.
Para o turista, que não transita com frequência pela estrada, o excesso desses dispositivos, muitos deles mal sinalizados ou construídos fora dos padrões, representa um risco. "Para o visitante, um quebra-molas mal pintado, sem placa de sinalização e em excesso é mais um instrumento de insegurança do que de proteção", afirma um relatório do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), que alerta para o aumento de acidentes em vias com essas características. Em 2022, época do levantamento, o DNIT registrou mais de 200 ocorrências em estradas estaduais e federais do Nordeste relacionadas a colisões traseiras e perda de controle devido a lombadas irregulares.
SEGURANÇA NO TRÂNSITO SE FAZ COM EDUCAÇÃO
A justificativa mais comum para a instalação dos quebra-molas é a segurança, especialmente em áreas urbanas e de grande fluxo de pedestres. No entanto, especialistas em tráfego ressaltam que a solução permanente passa por educação e fiscalização.
Na MA 312, o problema de fundo é cultural e social. É comum ver menores de idade dirigindo veículos, motocicletas trafegando sem a devida cautela e animais soltos na pista. Além disso, a combinação criminosa de álcool e direção ainda é uma realidade preocupante nas comunidades rurais. Nesse contexto, os quebra-molas surgem como uma solução paliativa e, por vezes, perigosa, para problemas que exigem campanhas educativas contínuas e presença constante do poder público.
"O que realmente traz segurança é a educação no trânsito, inclusive da comunidade local. Quando a população entende os riscos de deixar menores dirigir, de criar animais soltos e de misturar álcool e volante, naturalmente a velocidade excessiva deixa de ser a principal preocupação", analisa um agente de trânsito ouvido pelo Blog Marcio Maranhão.
O PREJUÍZO AO PROGRESSO
O potencial turístico da região é inegável. A Rota das Emoções é um dos destinos mais cobiçados do Brasil. No entanto, o excesso de obstáculos na MA 312 pode estar afastando os visitantes. Empresários do setor hoteleiro e de gastronomia já relatam queixas de turistas sobre o desconforto da viagem.
"O turista busca conforto e experiência. Se a estrada que dá acesso a belezas naturais espetaculares se torna um obstáculo, ele pode simplesmente optar por outro roteiro no futuro ou desistir no meio do caminho. Cada quebra-molas a mais é uma barreira simbólica ao progresso que tanto almejamos", desabafa um empresário do setor de turismo em Tutóia.
A esperança agora é que as prefeituras envolvidas, em conjunto com o governo do estado, realizem um estudo técnico para revisar a necessidade e a padronização de cada quebra-molas na MA 312. A substituição por outros mecanismos de controle de tráfego, como redutores de velocidade ópticos, pardais e as tartaruguinhas são melhores alternativas.
Enquanto isso, o progresso prometido pela nova estrada corre o risco de ficar engarrafado, preso em uma sucessão interminável de lombadas que, em vez de proteger, podem estar impedindo que o desenvolvimento chegue de forma plena aos povoados por onde a via passa.
CAMINHO PARA O FUTURO
Se o objetivo é consolidar a Rota das Emoções como um dos principais destinos turísticos do Brasil, é preciso repensar a estratégia de segurança viária. Educação, fiscalização e infraestrutura inteligente devem caminhar juntas. O progresso não pode ser freado por medidas paliativas que, embora bem-intencionadas, acabam por comprometer o desenvolvimento que a própria estrada prometia trazer.


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