Polícia do Rio teve de interromper investigação sobre quadrilha de
sonegadores, que seria ajudada pelo senador Lobão Filho e o deputado federal
Eduardo Cunha. Motivo: o bando teria sido alertado sobre 'grampos' telefônicos
pelo procurador-geral do MP do Rio, Cláudio Lopes
A revista Veja desta semana revela que está para chegar às mãos do
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, um documento de 35 páginas que
traz à luz uma história estarrecedora.
Trata-se de um relatório secreto da Polícia Civil do Rio de Janeiro
escrito dias depois da súbita interrupção das investigações que apuravam o
tráfico de influência do deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do filho do
ministro de Minas e Energia, senador Edison Lobão Filho (PMDB-MA), o Edinho, em
prol de um esquema milionário de sonegação fiscal.
Ele era operado, segundo a polícia, pelo empresário Ricardo Magro, dono
da refinaria de Manguinhos, na Zona Norte carioca. O relatório, ao qual a Veja
teve acesso, mostra que, por oito meses, a polícia seguiu, filmou e grampeou
essas e outras dez pessoas na órbita de Magro.
Os investigadores flagraram conversas comprometedoras e até encontros em
viagens e shows, que não deixam dúvida sobre o estreito elo entre os dois
políticos e o empresário. O material subsidiou um inquérito contra o grupo que
está agora sob análise do Supremo Tribunal Federal. Tal investigação seguiu de
vento em popa até 2009, quando de repente paralisou.
Não havia mais como avançar. De uma hora para outra, os suspeitos não se
falaram mais ao telefone. A polícia já sabe o motivo: o grupo foi alertado
sobre o grampo pelo então procurador-geral do Ministério Público (MP) do Rio,
Cláudio Lopes.
Em 2008, o Ministério Público do Maranhão investigou o senador Lobão
Filho por suposta sonegação fiscal de R$ 42 milhões da distribuidora de bebidas
Itumar, da qual Edinho foi sócio.
O senador teria colocado o nome de uma empregada doméstica – Maria Lúcia
Martins – como sócia da empresa para se livrar da dívida com o Fisco.
Outro lado – O jornal Folha de S. Paulo ouviu o deputado federal Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), que negou que tenha sido informado sobre inquérito policial no
qual é citado. Ele afirmou que o relatório da Polícia Civil não consta dos
documentos enviados ao STF (Supremo Tribunal Federal), responsável atualmente
pela investigação.
'Esse relatório não existe. Se ele foi feito, é clandestino. A polícia
do Rio não tem atribuição para me investigar', disse o deputado à Folha.
O líder do PMDB afirmou que manteve contatos institucionais com o
ex-procurador-geral de Justiça Cláudio Lopes, suposto responsável pelo vazamento.
Entre os temas está, disse Cunha, a PEC 37, que retira o poder de investigar do
Ministério Público.
'Tinha farta relação institucional com ele. Ele foi no meu gabinete umas
três ou quatro vezes. Não tenho nada para esconder'. Cláudio Lopes negou que tenha
repassado qualquer informação a Cunha sobre a investigação. Disse que o
documento é forjado e que não tem relação pessoal com Cunha.
O empresário Ricardo Magro negou que tenha deixado de usar o telefone
celular após o suposto vazamento de informação. Ele afirmou que só tomou
conhecimento do inquérito em 2010, quando procurado pelo jornal O Globo, que à
época revelou dados da investigação.
O Jornal Pequeno tentou ouvir ontem, por telefone, o senador Lobão
Filho, mas até o fechamento desta matéria ele não havia retornado as ligações
nem a mensagem deixada em seu celular.
(Veja Online,
Folha de S. Paulo e Redação do JP)
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